domingo, 31 de julho de 2011

Poemas Suicidas - Diário de um Moribundo

Poemas Suicidas - Diário de um Moribundo



Poemas Suicidas - Diário de Um Moribundo

Marcos Henrique



PREFÁCIO

Essa estória começou quando escrevi os 10 primeiros poemas que estão na mesma, a principio queria fazer um livro policial, mas como um embrião que anseia em ver a luz, o livro: Poemas Suicidas – Diário de um Moribundo, tomou dimensões maiores que meu controle.
Quando comecei a escrever, não sabia bem o que seria ou se tornaria esse livro; então, deixei o raciocínio e a lógica para trás e comecei um ritual, com a caneta e o papel no inicio, depois com os teclados de meu velho computador, fiz algo que nunca tinha feito antes ao mesmo tempo em que escrevia e derramava lágrimas, sentia-me aliviado e mais obstinado a terminar este livro. Tudo é emoção nesse livro que tenho tanto carinho, tudo é poesia e angustia sufocante, até chegar a libertação em forma de suicídio, não é uma apologia ao suicídio que faço e sim o desejo que muitos de nós já tivemos de nos sentirmos livres, apenas coloquei o nome de suicídio a essa liberdade, aqueles que nunca se sentiram tristes ou frágeis que me desculpem e aqueles que já se sentiram assim não desistam como Pablo desistiu, esperem para ver o fim da estória não encerrem suas vidas, isso é o que penso sempre que me sinto morto.
Augusto Pablo e Ruth, a mulher sem segundo nome; são um pouco de mim e de vocês, a luta contra seus demônios são vorazes e como na vida nem sempre saímos vitoriosos.
Esse foi meu conto de fadas, real e amargo, feito com sentimentos que tememos e estão bem escondidos; lá longe no fundo de nossas almas.
Tenham uma boa leitura e uma boa vida.

PRÓLOGO


Augusto Pablo é um homem de trinta e poucos anos, falido, viciado em drogas, um derrotado que vê sua vida passar sem sentido algum, o ânimo já lhe falta, forças para continuar ele não sabe de onde tira.
Augusto nem sempre teve sua vida assim, ele já teve mulher, filho, casa, trabalho, já foi um homem, hoje não é nada, nem a sombra de sua outra vida o acompanha. Augusto já foi como os outros, que sempre riem, brincam, e são felizes.
Essa é a estória de um homem sem futuro, com o passado no nebuloso, sua única perspectiva de vida é saber que um dia vai morrer, só falta ele decidir quando. O que lhe mantém vivo são as drogas e as visitas constantes de Ruth, uma prostituta viciada que lhe faz companhia nas noites de loucura. Entre a realidade, a sanidade e o desprezo, Ruth é a única que lhe conforta e é confortada por Augusto, nunca foi julgada, censurada ou espancada pelo mesmo.
...Augusto não desce para tomar seu café há alguns dias, o dono do motel estranha, visto que ele quase sempre descia por volta das 10:30h da manhã, o dono do motel sobe, bate na porta e não há resposta, ele pega a chave mestra e abre a porta do quarto, para sua surpresa Augusto Pablo está morto. O dono do motel o encontra nu, enforcado; embaixo dele está uma escrivaninha que foi usada para que ele pudesse subir e realizar o que desejava, na escrivaninha tinha algumas revistas, a foto de seu filho já falecido e seringas usadas, não há nada mais para ser feito a não ser, chamar a polícia.
Ruth é a última pessoa a ver Augusto com vida, ela carrega em seu ventre um filho, filho esse de Augusto; é deixado um bilhete para ela assinado por ele.


-Ruth! Oh, Minha doce Ruth, espero que você tenha coragem de cumprir seu trato, não agüento mais essa dor que me consome, não sou mais um homem, só sinto dor.
Apague a chama meu anjo da morte, apague a chama e cuspa as cinzas. Com o triunfo de minha morte, quando meu corpo cair ao solo, me sentirei forte.
Ruth, minha doce, obrigado por matar minha vida falsa e expulsar do meu corpo de pecado, todo mal em mim depositado; minha doce heroína, minhas veias mortas te agradecem, obrigado por tirar de mim toda dor, todo peso, toda falha e todo fracasso.
Cumpras nosso trato e minha alma podre para sempre terá gratidão e amor por teus serviços prestados. Ruth, eu te amo! Meu coração frio quando te vê bate descompassado; mas, minha hora passou, não há tempo para o amor, não há tempo para vida, não há tempo para mim.
Ruth! Cumpra seu trato e lhe serei mesmo que vá para o inferno eternamente grato.







O COMEÇO E O FIM ANDAM JUNTOS


- Todas as minhas tentativas de tentar descrever uma vida bela foram nulas, já tive beleza em mim por um breve momento, não sei se valorizei o que tive; mas por certo nós nunca sabemos. Minha vida não é uma prosa bela, não me traz saudades agradáveis... Sem vida, só vazio, estou cheio de vazio, não é hilário? E assim começa uma nova fase em minha vid...?
Os conflitos entre mim e meus conceitos; Um tenta rir, o outro finge tentar, mentindo e me jogando na cara minhas fraquezas, dúvidas e incertezas...
Este é o meu mundo, espero que ninguém se identifique com ele, ou estará morto e não saberá. Perdoem-me se lhes abri os olhos, não queria magoá-los. Queimem! Rasguem! Não leiam essas palavras de tristeza, não adoeçam suas almas, livrem-se deste mal, eu estou falando! Não riam! Não riam malditos bastardos! Eu não sou louco! Nem tolo! Só sou ódio e pecado! Não entrem no meu mundo! Eu lhes imploro, não entrem no meu mundo! Não serei responsabilizado, pois já estou morto...
Se prosseguirem; minha alma os receberá de braços fechados, já fui um homem bom, hoje, não sou homem, sou só escárnio.
O começo da justiça foi lindo, os corpos queimados na inquisição, à falsa moral dos Czares, todas às mãos lavadas, todas as lágrimas, toda bruxaria punida com a forca. É tão linda à justiça, é tão utópica...
Tolice é pensar numa manhã menos cinza, à miséria humana é tão linda de se ver na TV, pois não te passam germes pelas imagens é só mudar de canal quando tudo parecer perdido, perdido...
Eu conheci uma palavra nova hoje, e comecei a falá-la sem parar, para ver se fixava em meu cérebro, foi tudo em vão, às vezes não vale a pena tentar, só te magoa mais, ao invés de continuar falando, decidi escrever um poema, se é que posso chamar esse argueiro de poesia.


I


Sou um homem embora me sinta escárnio, não sou digno ou tragável, não posso ser consumido pelos viciados.
Minhas roupas estão limpas e minha alma suja, eu sinto minhas tripas canibais me devorando o estômago, me consumindo, me queimando como um baseado. Oh céus!
O céu está sem estrelas, sem nuvens, sem a lua dos apaixonados, tento, mas sempre desisto quando penso na dor em ter os pulsos cortados.
Não deveria ser assim, estou livre e me sinto carcerário, estou, agora que não sinto meu espírito, que já sinto o inevitável...
A lua logo se esconde com medo dos suicidas apaixonados, sou um homem, embora me sinta trancado.





Todos os justos serão poupados hoje, não sei como consegui escrever essa droga; que droga é essa que me atormenta tanto? Cavaleiros sem honra só servem para estuprar donzelas e matar dragões? Essas bestas de nossa imaginação, alguém já sentiu o gosto do sangue de uma donzela? Seu hímen, seu interior violado. Qual o gosto em tirar a pureza? À pureza é servida à mesa do carrasco, à pureza...
Nunca consegui ser um escoteiro, sempre tentei e nunca consegui é tão estranho pensar nisso agora, se eu pudesse ter um começo, o que eu faria? As pessoas querem voltar a ser crianças, mas com a mesma maldade dos adultos, dizem que assim não seriam tão tolas, besteira... Quando a inocência se vai nossas vidas simples se vão, lembro quando era menino, era tão simples e eu queria crescer rápido, como eu poderia saber que não teria vitórias, toda expectativa jogada fora; o garoto de ouro é uma fraude, me enforquem! Como vocês fizeram com toda aquela gente inocente, todas as bruxas, todos os não cristãos, todos os diferentes, carniceiros que usam o nome de Deus, mas trabalham para deus! Pobres diabos, pobres diabos, pobres, malditos, coitados.
A culpa do perjúrio repousa em mim, que mal há nisso? Quem pode me censurar? É engraçado se sentir puro e fazer parte do pecado. E, se o fruto estivesse lá ainda hoje? E as filhas dos homens gostaram dos filhos de Deus, esse foi o erro, o puro e o profano juntos, quem tudo sabe não me responde, fico sem respostas, tantas perguntas, vai-se a vida, ficam as perguntas não respondidas.
Conheci uma linda mulher, depois de meses de solidão, depois de meses, só eu e você minha queria mão; ela entrou naquele bar de ambiente pesado, a visão da simetria, a certeza da existência de Deus e do fracasso do diabo, à maquiagem borrada estava manchando seu belo rosto, era como se ela tivesse chorado; meu Deus! Anjos choram! Sua face esquerda estava avermelhada, dando a entender que ela havia sido esbofeteada, maldito deus, não se bate num anjo! Sua roupa era a única coisa que ela não tinha de puro, seu busto era a visão que todo cirurgião plástico esperava ver um dia, seus seios não eram nem tão grandes, nem tão pequenos, eram rígidos, cabiam nas mãos, me veio uma vontade voraz de senti-los em meus lábios. Sentou-se sozinha numa mesa aonde às luzes das lâmpadas não chegavam com facilidade, estava nas trevas agora, fiquei a lhe admirar, eu não entendia como um anjo daquele havia sido expulso do paraíso, não tinha mais asas, nem pureza, poderia ser tocada por minhas mãos, minhas mãos tão sujas.


- Saia do bar! – falou o dono.
- Eu só vou ficar aqui um pouco, eu não vou demorar – respondeu à moça.
- Eu já disse que não quero gente como você aqui; suma! - falou o dono do bar num tom agressivo.
- Por favor, me deixe aqui só um pouco - implorou a moça.


Eu não poderia deixar aquilo continuar, não era justo; a justiça não é justa!?


- Por favor, me dêem licença; Paula é você?
- Você a conhece? - perguntou o dono do bar.
- Mais é claro, somos amigos de infância, lembra quando brincávamos de pular cordas? Eram tempos bons.
- Se ela ficar aqui, vai ter que consumir, ou cai fora! - falou o dono do bar, com um olhar de ódio e ganância.
- Fique calmo; nós vamos gastar a vontade aqui hoje, não é Paula? Pode nos trazer... Cerveja e; Você já jantou Paula?
- Não – sussurrou a moça.


Fiquei por um breve momento embriagado por aquela voz suave, me enchi de luxúria e sonhos, nada de insônia e pesadelos, só doçura, mais era só um sonho, em alguns minutos voltei à realidade.

- É isso, cerveja e a melhor comida da casa.


O dono do bar foi pegar o que eu tinha pedido, saiu meio descontente, mas só pensava no dinheiro que ganharia com aquela refeição.
Sentei-me ao lado dela, que por alguns momentos não me disse nada, nem me olhou nos olhos, me senti como se fosse impuro para ela, demorei a entender que ela sentia o mesmo por mim, na verdade nunca entendi, seria ela generosa ou piedosa, nunca vou saber...


- Posso saber como você se chama?
- Obrigada... – sussurrou a moça
- Não foi nada, você faria o mesmo por mim...
- É serio, ninguém nunca fez nada por mim, só me dão, querendo algo em troca sabe... – falou com mais segurança a moça
- Então eu sou igual aos outros, eu pedi para saber seu nome, me desculpe...


Ela olhou para mim e deu um sorriso lindo, era uma visão no deserto escaldante de um oásis, paz na terra, saúde para os enfermos, perdão para o diabo.


- Ruth, Meu nome é Ruth – Falou ela com um rosto doce.
- Meu Deus é verdade, anjos falam!
- Olha, muito obrigado mesmo, você foi legal comigo, eu nunca vou esquecer – falou com um sorriso no rosto.
- Ruth, eu posso te dizer uma coisa? Você me dá paz de espírito e eu não sentia meu espírito há muito tempo, por onde você andou?


Ficamos a conversar por um bom tempo, as horas não importavam, nada mais importava, tínhamos comida, bebida e eu tinha quase vida.
Ruth era a prostituta mais linda e doce que havia conhecido, não demorou muito e começamos a nos encontrar constantemente, nunca paguei para sair com a Ruth, eu a aceitava do jeito que era e ela a mim, éramos um só corpo quando estávamos juntos, ela me mostrou seu mundo e eu entrei, foi mágico, sentia a vida correr em minhas veias, sentia minhas veias; minha pulsação acelerada, meu coração, eu tinha um coração! Frio, mas era meu coração, ele sempre se aquecia quando Ruth injetava felicidade.
Por alguns momentos eu me sentia livre, mas, não era para sempre, que infelicidade a minha, nem as drogas queriam minha felicidade eterna, voltei a ficar deprimido, mas tem algo novo agora, eu tenho visões, um cavaleiro negro me chama para o combate, vejo fadas e duendes, vejo demônios e não me vejo mais no espelho.
Vomitei tanto hoje que pensei que ficaria pelo avesso, o banheiro é meu fiel escudeiro, em todas as horas de aperto, tenho ele como meu confidente, meu sujo companheiro, a moral se vai quando você está debilitado. O homem perde sua dignidade quando não pode limpar mais seu rabo, dignidade, palavra doce, embora às vezes soe falso sabe, quando perdi minha dignidade percebi que sempre estaria com os fracassados, esse mundo vasto de fracasso... Às vezes me vêm na mente que se eu morrer hoje, vou ser o que sempre fui; nada!
Fiz um lixo chamado poema é para minha doce e bela Ruth, espero que ela goste:


II


Ruth era linda, uma deusa, sua beleza transcendia era única, seus lábios carnudos, sua maquiagem impecável (como ela era linda), sem ela era um anjo, um sonho bom, uma sensação adorável.
- Ruth era tão boa quando me fornecia heroína, suas doses eram precisas, compartilhávamos as seringas, as agulhas. As agulhas em nossos braços; não sabíamos o que era sangue e o que era pus.
- Ruth. Ah, Ruth! Minha menina, o amor é tão belo e somos tão amargos, o sexo é bom, o gozo saciável. Ah, Ruth! Queria me aceitar, mesmo sabendo que sou um louco suicida viciado, que provou do amor só um gosto amargo. Teu gosto é doce, eu é que sou amargo.



Quando estamos vivos, o processo de decomposição é lento e doloroso. Esgoto, esgoto, meu arroto, meu corpo, não sinto, sentido, não sinto, abismo, persisto. Eu não sou louco! Eu estou louco? Meu filho, onde você está? Não lembro mais do rosto do meu filho meu Deus! Essa foto desbotada é ingrata, não me mostra como ele está agora, ah! Como eu queria tocá-lo, como eu queria...
Não o vejo a uns; não sei quanto tempo faz? Há quanto tempo estou aqui? Como será meu rosto agora? Eu temo me enxergar no espelho, temo por todos esses anos, quem perdeu a noção do tempo, não tem tempo para ver as horas, meu relógio parou há quatro anos atrás; só agora percebo, tanto tempo...
Sempre me sinto um inútil, quando sinto o passar do tempo, não tenho nada de que me orgulhar, os momentos bons de minha vida estão perdidos, me toco, já não me sinto.
Quando tudo começou? Não lembro o fim e o começo, essas palavras são nomes para nossos desapontamentos, desapontamento...
Você já se sentiu estranho? Como se não pertencesse ao mundo, todos te olham, mas não te notam, você acha que eles te percebem? Você é anônimo, embora vários olhos te vejam, esses olhos não te conhecem, não sabem o que você senti!
Às vezes perco o controle de meus sentimentos, às vezes me sinto inseguro, sempre que saio do meu mundo escuro e busco a luz, sempre que finjo ser como eles, sempre que nasço depois de outro amanhecer. É tão estranho fazer parte de algo que não te pertence, não é seu, mesmo que tenha sido dado a você.
Aprendi outra palavra, foi em vão, não me teve nenhuma serventia, não pude usá-la em nada, é como me sinto quando caminho, seja noite ou dia, frio ou calor, paz ou agonia, hemorragia ou dor.
Desaprendi como se dorme bem e como se sonha, minhas noites são intermináveis, não têm nem pesadelos, acho que é por viver neles, como eu queria esquecer e só lembrar de coisas belas, temo em me ver no espelho, temo em me enxergar e ver o que me tornei. Não! Não! Eu não vou me olhar no espelho, não! Esse quarto fede, esse quarto me dá mal estar, esse quarto é... Sinto-me seguro, o quarto, o escuro. A porta é a chave, não quero usar, mas é preciso... Alguém bate a porta, quem será? Será meu anjo ou o carrasco que vem me cobrar, essa batida não para, não cessa, não me deixa raciocinar, a dúvida me bate, me parte o cérebro, tenho que ir até lá.


- Quem é? – disse Pablo.
- Sou eu, Ruth... – respondeu.
- É você meu anjo, pode entrar. – disse Pablo, mais aliviado.
- Vim te ver e curtir um pouco com você essa noite – falou Ruth com uma voz embriagante.
- O que você tem para me dar? – falou Pablo, com um olhar esperançoso.
- Prazer, muito prazer, para mim e você – disse Ruth, passando a língua nos lábios.
- Você trouxe o céu e o inferno com você, minha doce luxúria, meu doce libido. – disse Pablo, com as pupilas dilatadas.
- Eu trouxe tudo, meu poeta da morte – falou Ruth, com um olhar que passava malícia.
- Poeta da morte, que vê vida em você, minha lady, meu anjo que chora, minha vida que se esvai cada dia um pouco mais... – falou Pablo.
- Você me excita tanto quando fala isso – diz Ruth passando a mão em seu corpo, provocando Pablo.
- Uma noite de amor, fantasia e luxúria, é o que nos espera, minha querida. – diz Pablo, ofegante para Ruth.


Fazer amor é como nascer, trepar é como correr, e correr, e correr, o amor é feito por poucos; é uma pena, eu sei que trepar é gostoso, mas com amor tudo fica mais prazeroso, Ruth e eu nunca fizemos sexo mecânico, só trepamos uma vez, e foi uma bosta. Quando faço amor com ela, me sinto quente outra vez, como eu queria que durasse para sempre essa sensação, como eu queria que os efeitos das drogas durassem para sempre, sem me fazer tanto mal...
Não tenho lugar aqui, esse estádio está cheio para mim, não me sobrou nenhum lugar, só aquele com vômito onde não posso me sentar.
Você já se sentiu estranho? Como se você não pertencesse ao mundo, todos te olham, mas você acha que eles não te percebem. Você é anônimo, embora vários te olhem, te vejam, não te notam e esses mesmos olhos não te conhecem, não conhecem teus sentimentos e você não os mostra por medo da exclusão...
Às vezes me sinto inseguro, sempre que saio, sempre que finjo viver no mundo deles, sempre que nasço após mais um amanhecer. É tão estranho fazer parte de algo que você sente que não é seu...
Descobri outra palavra hoje, foi em vão, não pude usá-la em nada, é como me sinto, é como me sinto quando caminho, seja noite ou dia, faça sol ou chuva, choros e lágrimas de lamúria, sou um ser da noite, sem dia, ou um ser do dia, sem sono na noite fria.
Ouço o som da chuva, ouço o som dos outros nos quartos; o silêncio da noite é quebrado com a respiração dos que vivem a incomodá-la, ah! Noite, minha noite sem nuvens ou estrelas, com tantos parasitas a lhe incomodar, lua derradeira, morada de quem não pode chegar lá, me tira a melancolia, me tira a antipatia, me dá chance de voltar a sonhar. Lua, minha lua que não é minha, minha lua que não é morada dos que querem te tocar, lua dos apaixonados, me aquece a alma, me tira a magoa e me perdoa por tentar te tocar.
É sempre noite em meus olhos, estou vendo mais uma vez o desejo, seu corpo não sei como descrevo ou se devo, imaginem poesia, não, melhor, imaginem... Não sei descrever o belo como deveria ser, não vou distorcer, não ouso manchar o corpo de minha Vênus, minha Geoconda enigmática, minha primavera, quando te vejo, me da vontade de sentir meu coração, que pena minha afrodisia meu coração ter ficado murcho. Paro, não ouço ele bater como a eras atrás.
Como era minha vida atrás, atrás de mim não vejo nem minha sombra, minha sombra. Quero acordar Ruth, para mamá-la outra vez, mas ela dorme tão bem, é tão lindo, que bom que, meu coração se foi, mas me deixou a noção do belo, do lindo, não sou de todo o mal o desagrado, por Ruth eu tento ser tragável, Ruth, minha, que não é minha, é de tantos homens, mas comigo ela se deita e dorme como um ser humano.
Minha felicidade é curta, só nas noites com Ruth me sinto meio vivo. O começo e o fim andam juntos debochando de mim.



FELICIDADE FINGIDA (VAZIA)



Sinto-me capaz, estou confiante, posso correr milhas sem me cansar, me sinto útil, me sinto capaz de realizar feitos incríveis, poderia trabalhar horas sem cessar, o mundo é vasto, mas eu tenho pernas, posso andar.
Quero fazer tudo que deixei de fazer antes, me sinto ótimo, não chove, o sol brilha alto e lindo, tenho vida, tenho pernas para dar a volta ao mundo; droga é só ilusão! Esperança tola; estou aqui preso, nessa prisão sem trancas ou chaves, não tenho para onde ir, o condenado sem julgamento, o julgamento sem jurados. Você já se sentiu capaz de fazer o mundo girar ao contrário, mas você percebe que está com as mãos atadas, vamos dar vivas à fatalidade. Não é bem assim, estou sendo muito melodramático ou não? Mas é horrível como um assassino deve se sentir, com a vítima na mira e quando ele puxa o gatilho nada de balas, ou uma mulher preste a dar à luz e nada de criança, eu sei, não é fácil entender, vou tentar mostrar como me sinto, minha verdadeira forma, minha felicidade fingida, minha vida sem vida.
Minha felicidade é isso:































































PERSPECTIVA DA FAMÍLIA



Lembro de tudo, todo o começo, como era boa... Ah! Como era boa a vida, lembro de tudo do começo até a ruína.
A era das concretizações se aproxima; é, eu lembro, os feitos memoráveis, os discursos solenes, não imaginava no pó que se tornaria à minha glória, glória? O garoto dos sonhos de qualquer pai, lindo, limpo e sadio.
A vida passa tão rápida, mas quem nunca disse isso? Quem ama a vida? São só as pessoas que nela se realizaram. Na vida adulta o anonimato termina, vem a pior e para alguns a melhor fase da vida, você é descoberto e chamado de fracasso.
Sinto a noite cair, ouço o som da noite, sinto o peso dela em meus ombros, o peso da noite para mim não é suave, quando chega a noite lembro de tudo que não fiz, não realizei...
Descobri uma palavra nessa noite, não adianta, não posso usá-la, nunca poderei, nunca a usarei! Escrevi mais um lixo hoje, é mais ou menos assim:


III


Pensei um pouco no que se tornou minha vida, a reconheci num esgoto, em meio a ratos um rosto, vi então corri, mas quando dei conta de si, era meu rosto, meu pobre rosto amarelo e com traços de tristeza, lesões deixadas pelas marcas dos tempos. Pensando, me veio à tona, em que no momento que nascemos, já morremos, um minuto de vida e um minuto de morte são iguais.
A tosse é o sopro da vida expelida, por isso os tuberculosos morrem secos, se eu tossir, talvez a vida repare em mim, se eu tossir, talvez eu sinta vida em mim.





Os anos foram ingratos comigo, eu nunca fiz mal algum a você seu bastardo! E o que você me deu? Não me responda! Não agüentaria, não agüentaria ouvir, já me basta sentir, já me basta ser eu mesmo, toda fé em mim depositada, foi jogada na latrina, onde está meu lindo garotinho que corre tanto pela casa, essas foram palavras doces de uma vida infame. Quanta vaidade, quanto narcisismo, quanta... Não adianta mais lembrar, não adianta, não vou voltar, não vai voltar aquele espírito puro, foi deixado não sei onde, foi expulso por mim, ou tirado sem que eu percebesse.
Sempre que vem mais um fim de semana, eu percebo que não fiz nada para me orgulhar de ter amanhecido, vou dormir, mas não consigo, depois que entro no mundo, não consigo sair dele. Não há nada aqui para me deixar entorpecido, foi tudo usado, toda paz foi usada, todas as seringas, todas agulhas, todo o nada em uma única palavra, que não pode ser dita, mas todos conhecem muito bem.
Às horas passam, os dias passam, mas para mim continuam os mesmos; hoje é dia de trabalho forçado para Ruth, seu olhar triste, mas esperançoso, me faz mal, ela não sabe então não lhe culpo.
Quais eram os sonhos sonhados de sua família para com ela? Quais vidas a tentaram dar?
Fechem os olhos, vamos lá, fechem os olhos! Pensem, ou melhor, não pensem, deixem suas mentes vazias, brancas, limpas, não imitem os outros, só façam, só vivam, não sejam derrotados, não...
Eu vou contar o que me deixa triste.


IV


Mais um sábado, não sei se comemoro ou se choro, acho que sou um tolo covarde.
Quantas vidas boas, quantos males intragáveis; preciso de mais um pouco de vodka e um baseado de verdade, nunca se é tarde de mais para começar a se drogar.
O poço está cheio de fracassados iguais a mim, e o poço não tem fundo, cabe todos e não grava seus rostos, para ele são todos iguais.
Impotente! Suicida! Louco! Demente! Covarde! Vida fingida! Hospedagem maldita, meu respeito foi jogado na latrina!
Mais um sábado; mais perguntas, mais vida sem vida.





Sempre me enxergam quando estou fraco, não me ajudam, só me julgam e cospem palavras podres, todos meus parentes se foram, todo o parentesco com alguém se foi, não tenho pena de ter culpa, nem tenho culpa em não ter pena, onde está aquele doce menino? O cordeiro que foi sacrificado estava com sangue negro e ninguém notou, um delírio apaixonado, um delírio com overdose, um delírio e quase enxergo o que os olhos temem em ver.
Quantos juramentos são quebrados ao longo da vida, quantas vidas são sacrificadas em nome da paz, a paz é estuprada por nós, eu estuprei a puta da paz e o que fizeram, mataram alguns moribundos, lembro do acordo, lembro do acordo, lembro do maldito acordo! Mas as coisas mudam, até para mim, eu sei. Essa é minha vida agora, com idas e vindas ao inferno e fico lá cada vez mais tempo, tenho medo de me acostumar, tenho medo de não querer ter forças para sair de lá.
Minha última visita com a vida foi num quarto de hospital, o enfermo que estava lá me deu fraqueza, para eu suportar minha dor, ele me disse - desista seu fraco antes de seu sangue empretecer! Cuspa seu tumor fora, cuspa agora ou irá se perder.
Como eu tenho saudades do útero de minha genitora, era tão quente e aconchegante, era limpo, era lindo, meu próprio éden, meu doce paraíso, eu era único, mas não me sentia só, mas como tudo de bom nos é tirado, fui expelido, fui jogado e tive meu corpo mutilado quando tocou o ar, só restou por pouco tempo de lembrança, o sabor da vida, o gosto, o néctar que eu não lembro mais o gosto, eu estuprei a paz e ela me roubou a vida, como forma de punição matou os moribundos e mesmo assim me roubou a vida.
Todos os loucos no sanatório estão alegres, não estão sós como eu, não se preocupam mais com nada, não são mais nada, não são nada!
Depois do fracasso, nada mais me preocupa, não sei se estou alegre ou sou estúpido por isso, os dias só me incomodam por me fazer cortar os pêlos do corpo, não sei se estou feliz com isso ou sou estúpido, meu Deus! Veio-me um medo, uma preocupação que me tomou os sentidos, me rouba o ar, sopra angústia, meu Deus! Deus! O meu Deus! Como posso dizer? Como posso relatar esse fato? Só um lixo de meus versos, meu poema doentio poderá me ajudar.

V


As horas não importam mais, nem um pouco. O que me preocupa são os cigarros que acabaram acho que não vou conseguir ver o fim do dia. O silêncio é total e mesmo gritando por dentro, não choro por fora, as feridas sangram juntas com os amados que vão embora, se vão e nos deixam esmolas.
Minha filosofia é tão sem graça, sou um homem sem passado, sou passado sem esperança, o futuro é pros otários, o otário sou eu agora, sem futuro ou passado.
As horas não mais me preocupam, porque os cigarros acabaram, tenho maior preocupação agora - Sustentar meu vício, antes que a dor vá por completo embora, se for.





Foi-se o que a família tinha tentado dar, só restou os conselhos dos proscritos, nós não acreditamos neles, até estarmos iguais a eles. Quanto céu e não vejo nenhum anjo, nem asas ou penas. Os anjos nos invejam por termos alma e eles não, tolos! Eles é que são felizes, vivem no céu, junto ao pai, eu não tenho pai. Se os anjos soubessem a falta que isso faz, teriam compaixão e apareceriam para mim.
Que cor tem a tristeza? Que cor tem nossa alma? Por que as cores são tão importantes? Qual a cor do fracasso? Qual a cor das perspectivas? Qual a pergunta certa? Como fazer a pergunta certa? Como começar tudo que está no fim? Como ser forte no fim? Como é ter muitas duvidas? Como escutar várias respostas? Qual a cara da expectativa quando falha? Qual a cara dos outros quando você falha? O que é família feliz? Tantas perguntas, que vão morrer comigo.
É, tenho que fingir me acostumar, é a única forma de resistir, é a única forma de persistir, é o único jeito, o único que tenho.



ANÔNIMO



Meu anonimato me deixa invisível, talvez meu medo da morte seja superado quando eu for, da mesma forma que me fez a sorte.
Sou só um, um singular sem importância, não me chutam por não me enxergar.
Quantos gritos! Quantos gritos! Vão! Vão! Vão todos vocês! Deixem-me! Deixem meu surto de loucura em paz!
Qual meu ofício? Me chama! Não responde, não há som. Maldita vela sem respostas! Maldito fogo que não clareia, só me queima, me consome.
Como é lindo o som do grito, o grito expelido de um homem sofrido, é sua única forma de notarem que está vivo.
Meu espírito se foi num grito, num lindo e angustiante grito, me saiu todo o ar, e quando tornei a respirar, me senti oco.
Inspirei-me a fazer um poema triste, entristeci-me ao me inspirar a fazer essa lamúria, que dor sinto no peito, minha querida ex-esposa repousa no inferno, que Deus nunca te perdoe por ter tirado a vida de nosso filho.
Meu doce menino era lindo, como um belo sonho, hoje, não mais sonho, não mais durmo como antes.
Quantos mortos devem ter hoje? Quantos irão morrer depois de amanhã? Matamos tão bem, essa arte nos foi herdada, essa maldita arte, nossos malditos sentimentos negros me fazem escrever essas coisas impuras. Nós os proscritos, seremos chamados para a batalha e estaremos juntos dos servos do bem, bem armados. Todos os inimigos, todas suas armas, suas crenças. O que é certo? O que significa inimigo? Todos matam, sejam eles anônimos, proscritos, negros, brancos, pardos, mestiços, todos matam os conhecidos.
Meu poema triste me deixa dúvidas, me deixa interrogações, meu poema é uma incógnita:


VI


Eu sou o poeta sem rimas, o herói dos mais fracos, pois sou como eles, sou como o ódio e o tempero que falta no prato.
Não tenho capa, botas ou sunga vermelha, não vôo tão alto; somos tão tolos, adoradores de heróis imaginários, sem eles não suportaríamos a verdade de nossas vidas.
Eu sou a própria rima; não, eu sou o plágio, a orgia em nós escondida, o silêncio, a sanidade dos lunáticos, o homem da luz que luta para sair das trevas, a piada sem graça, a morte súbita, diplomacia armada, a mãe que pariu a mágoa, o pai que não vê o filho, fim sem final memorável, lágrimas dos que matam, mas não choram, a bomba que mata inocentes. Sabe, me veio uma pergunta a mente, se eu sou tão diferente, eu pergunto: Eu cago, vocês cagam?




Ouçam os gritos, parem por um instante e ouçam, sintam a dor por um minuto, um segundo sintam-se dor, depois de feito, notem como é difícil viver sem um ombro amigo, já que todos provocam dor, mesmo que seja o mínimo possível.
Você, eu, somos todos anônimos, mesmo que achem ridículo, sintam! Olhe lá no fundo de suas almas e verão que não estou mentindo, eu sinto em minha cabeça o peso dos séculos, sinto todos os corpos queimados, sinto todo o mundo invisível e não me sinto, porque sou anônimo, sou por mim esquecido, sou um tolo e um sábio embriagado em vômito de quem não consigo saber o nome, somos todos estranhos, somos todos reprimidos, presos por nosso mundo, nosso mundo que criamos e não o educamos, fomos traídos por nós mesmos, então não reclamem por sermos muitos na multidão, e sermos todos desconhecidos.



A DESCOBERTA (MEU UNIVERSO)


Você já se imaginou como é por dentro, todas as conexões nervosas, todos os órgãos trabalhando – Parem de respirar por uns instantes e ouçam; escutem seus corações palpitando, como bate forte; é como se vários tambores estivessem ao mesmo tempo batendo, respirem e não solte o ar, sintam suas cabeças, é como se fosse estourar.
Notem todas suas tripas encolhidas, o pâncreas, os rins, o cérebro, quantos vasos sanguíneos estão trabalhando agora nesse exato momento, em algum lugar do seu corpo, tem uma célula morrendo e outra nascendo. Somos nosso próprio deus por dentro, nosso próprio universo, se compararmos que por dentro somos vida e morte, fico quase louco só de pensar nisso.
Como deveria se chamar esse nosso mundo? Corpo? Prisão? Segredo? Solidão? Como chamar nosso mundo particular; sou o deus dele, não sou muito misericordioso, nem sábio o bastante, o maltrato com todo o tóxico que ingiro, não tenho nome certo para dá-lo, nem sei como cuidar bem dele, meu coração é um prefeito falho, meus pulmões são corruptos e podres, estão negros, são viciados em drogas. O cu é a única salvação, única forma de sair desse mundo cheio de prisão.

Ouço uma batida na porta


- Quem é? – pergunta Pablo.
- Sou eu, Ruth; Posso entrar? – respondeu Ruth.


A porta se abre. É Ruth; toda molhada e imunda, a seguro com força para que não caia.

- Eu bebi muito e cheirei tanto pó que meu nariz sangrou – disse Ruth, meio zonza.
- Entra, vou te dar um banho – falou Pablo.


Quando comecei a tirar sua roupa, ela não suportou e começou a vomitar com tanta força que pensei que ela fosse ficar pelo avesso.
Dei-lhe um banho e coloquei-a para dormir.
O corpo de Ruth, seu universo foi atacado por sua deusa, inocentes foram mortos, mas tudo ficara claro pela manhã.
Volto a escrever e noto como meu mundo é quadrado; a gravidade é bruta com ele, sou bruto às vezes, sou só às vezes, sempre...
Como eu queria sair de um cu, ser expelido, ser libertado, sair do escuro, acho que tenho essas chaves, mas ainda temo usá-la.
Quase sempre ouço as vozes me chamando, me empurrando, me ordenando: Livre-se desse seu mundo, saia dele de qualquer forma.
Essas vozes são insistentes, temo ser obediente, temo perceber a solução, a cura está em minhas mãos.
Ruth acordou e me olhou nos olhos.


- Pablo vem cá, eu tenho uma coisa para você – disse Ruth, com um olhar sedutor e malicioso.
- O que você tem para mim? – perguntou Pablo.
- Fantasia e prazer. São seus se quiser – falou Ruth se retorcendo toda na cama.
- Eu preciso de um pouco de fantasia e muito prazer – respondeu Pablo.


Senti-me um novamente junto de Ruth, viajamos juntos outra vez para o inferno e foi tão bom. Anjos nos guiaram para fora, mas não entramos no paraíso, foi uma pena, mas valeu; eu voei bem alto e caí bem rápido no chão.
Ruth levantou, era noite, fiquei triste, mas deixei ela partir. A cama vazia me deixou enfermo, me deixou gelado por dentro, se eu chorar, ninguém vai saber, se eu morrer ninguém vai saber, só me resta escrever um de meus lixos para que todos saibam que me sinto morto, e finjo estar vivo.


VII


Como eu me sinto - Solidão;
Como eu me sinto - Inquietação;
Como eu me sinto - Insegurança;
Como eu me já senti – Esperança;
Como eu me sinto doente, sem cura - Eu vejo a cura e temo usá-la.
Como eu queria ser normal e tirar essa maldição poética de mim, poder sentir de forma normal a vida, não enxergar as entrelinhas.
Estou com muito medo, pois acho que vou amar, junto com meus amores sempre chega dor. A inquietação do meu cérebro, coração palpitante, mãos suadas e trêmulas, são mau agouro, faz tempo que não sinto isso.
Ponho-me a pensar num amor que pode me consumir outra vez, igual a todos que senti e sofri.
Gostaria de estar morto às vezes, mas sinto tanta vida reprimida em mim que me dá pena em saber que já morri.
Talvez esse amor que temo sentir me tire do escuro, ou talvez me ponha em cima do muro do murmuro.
O que eu gostaria mesmo, era de um beijo com gosto de desejo, com gosto de amor, sem o gosto de saliva que sempre senti, das bocas que beijei, só uma; não sei, talvez tenha sentido mais que saliva, mais que saliva em meus lábios.
Se não me amas, não finja que me deseja;
Se não me amas, não me olhe;
Se não me amas, não finja me dar esperanças, me deixe viver triste, como sempre vivi.





Meu mundo paralelo é meu, meu coração é meu, meu desejo é meu, meu medo é todo meu; infelizmente, quando se descobre o motivo, não há mais motivos para tudo isso, será certo partir sem dar adeus?
Partir no escuro só é seguro quando se tem certeza de luz no outro lado, não tenho certeza é só essa certeza que tenho, à incerteza.
Não me vire mais às costas, por favor! Não me negue! Sou tão triste e só, sou só eu minha sombra. Olha para mim! Só uma vez, só uma...
Não quero amor, respeito ou amizade, só um olhar me seria útil, saberia que você me nota, saberia que não sou tão invisível.
O crepúsculo noturno é quebrado, é invadido, violado, não sei como me defender; estou só e inseguro. Experimento as trevas todos os dias.
Olha para mim! Só uma vez! Só com um olho! Só com um olho...
Todos os surdos juntos me ouviriam da forma que grito e nada de você sinto. Um olhar! Não tem que ser paterno ou materno! Só um olhar...
Não queria dizer isso, mas vou embora, vou pro meu mundo destruído, adeus e não olhe para mim enquanto estou indo, não olhe para mim, eu suplico.
Minha paranóia me deixou louco, me deixou em conflito, tento tanto ser expelido, o dia se aproxima, eu sinto.
Vou destruir meu mundo, meu mundo imundo e fictício, meu, que não queria que me pertencesse.
Ando pelas ruas e noto todos os rostos felizes, se pudesse os roubaria para mim, mas nada posso fazer, e não é justo, não é justo, vou continuar andando e admirando todos esses rostos felizes, são tão felizes, tão felizes e nem notam o meu tão triste.
Estou com fome, não há como ter comida hoje, ontem foi bom, gastei tudo em drogas, malditas, sempre me traem! Não sei porque continuo seu amigo, se sei que elas não são minhas amigas.
Estou com fome e não sei aonde posso comer, aonde podem aceitar minha fome, meu nome, meu corpo sujo e impuro; busco a pureza, e nada, a imundície sempre me acha e me acolhe, vou sair com Ruth, vou sair com ela, vou me prostituir para ela, por comida, por um bom prato que me mate a fome e me livre desse vazio momentâneo, esse incomodo que me consome as tripas, me tira a dignidade de homem, maldita fome!

Continua....

Em breve esse e outros livros meus estarão sendo vendidos pela internet e em livrarias de todo o país, aguardem.

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